segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Fez-se justiça: Ched Evans é INOCENTE! (parte IV)


Quantos à reacções a esta reposição da VERDADE, já que a dignidade dos envolvidos está demasiado entranhada de lama para que se possa restabelecer, temos de tudo, desde o ridículo ao surrealista, passando por vários tons de burrice, e não deixando de fora ressabiamento aos molhos. O pai da vítima, que tal como ela não é identificado, como manda a lei quando os crimes são relacionados com o foro íntimo, ou envolvem menores em risco, não ficou nada satisfeito que se tivesse vasculhado a extensiva lista de convidados à degustação das virtudes da sua santinha! Onde é que se já se viu uma coisa destas?! Este senhor que não fdp, mas antes o pai da mesma, devia era ficar sossegadinho, ou melhor ainda, enfiar-se no maior buraco que encontrasse no chão onde coubesse a sua vergonha - se tivesse vergonha, e aqui parece que a libertina rapariga tem a quem sair. Que raio de educação deu este gajo à filha, e para piorar as coisas, assumo que com 19 anos ainda deve viver debaixo do seu tecto.  Onde é que ele pensava que a miúda andava quando não dormia  em casa, ou quando chegava com uma cadela de uma bebedeira em cima? Mas pronto, pá, isso de mandar um tipo malhar com o coiro na choldra não é problema teu, claro. 

Um outro facto paralelo a este caso (e como podem ver, é um assunto bastante complexo) prende-se com a divulgação da identidade da vítima, que deixou o seu pai "furioso". É mau porque se trata de um crime, e já foram indiciada uma adolescente que divulgou nas redes sociais o nome da rapariga. Mas como é que pensam que eles sabiam, se o caso só se veio a saber depois de Ched Evans ter sido indiciado? PORQUE TODA A GENTE A CONHECE, E SABE O QUE A CASA GASTA! Não estou a sugerir que ela tenha um convite à pouca-vergonha estampado na testa, mas provavelmente nunca precisou de se explicar a ninguém, e da única vez que foi confrontada com essa situação, decidiu passar por anjinho e foi aquilo que se viu. "Só faltava virem agora dizer que e minha filha andava a pedi-las", roga o pai, julgando que convence alguém que fez o que lhe competia no papel de educador. Eu nunca seria capaz de colocar a questão nesses termos, mas o problema tem a ver com a semântica: ela não "andava a pedi-las" - andava à procura. Outra vez, não estou a criticar, e seria hipócrita se o fizesse. Eu também gosto de badalhoquice, só não seria capaz de cometer prejúrio, que também é crime. Quando ele conclui dizendo que o historial da filha neste departamento é irrelevante, pois não é ela que está a ser julgada, eu acrescento que "não está, mas se calhar devia ser".





E não demorou até que viesse a reprovação  (leia-se "ressabiamento") das associações de apoio à vítima, que condenam a estratégia da defesa em desacreditar a queixosa. Eu acho que estas associações revestem-se de uma nobreza e são de uma utilidade acima de qualquer suspeita - com excepção  deste caso. Dá a entender que querem que a requerente deste caso seja vítima, quando a probabilidade de ter sido instrumentalizada por outros que igualmente não teriam um pretexto para fazer o que fazem - e fazem muito bem, volto a afirmar - se não houverem vítimas. Para mim no mundo ideal não existiriam violações nem agressores de espécie alguma, mas aqui fico com a percepção de que para estes o número os que existem ainda não chegam. Da parte que me toca, fico feliz que tenha sido feita justiça "positiva", ou seja, o acusado é inocente de um crime horrível que não só não cometeu, como ainda não chegou sequer a ser cometido, e assim sendo não há culpados nem vítimas, e lamento que exista quem destile tanto ódio e esteja tão sedento de sangue que considere isto uma coisa nefasta. Parece que muitas destas opiniões que destilam veneno esquecem-se de que o que está aqui em casa é um processo judicial, e que a justiça actua conforme a lei, e não a opinião individual de cada um, ou de que estes "acham bem" ou "mal". A justiça decide com base nos códigos das leis, e não no que vem escarrapachado naqueles tablóides intragáveis. Ia ser bonita, ia. Vejamos mais um exemplo de completo desprezo por aquilo que prende a barraca da ordem social ao chão, evitando que vá pelos ares e fiquemos todos ao relento, enquanto chovem malucos:


Aqueles dois indivíduos ao lado de Ched Evans naquela imagem em cima são os Rizzle Kicks, um duo que ganha a vida fazendo aquilo que designam por "música" - como podem ver os personagens deste enredo são ora uns grandes mentirosos, ou uns tremendos imbecis, e estes conseguem combinar as duas valências. De acordo com um mensagem deixada no "Twitter" destes palermas, a alteração do veredicto do caso "é uma vergonha", criticando o facto da defesa ter recorrido ao passado da alegada vítima, expondo detalhes íntimos do mesmo. Até aqui tudo bem, e por mais que discorde desta ideia, têm todo o direito a pensar (se é que pensam...) dessa forma. O problema é a justificação que deram para esta tomada de posição: "Quer dizer que agora se alguém gostar de sexo, não faz mal ser violada?!?!". Isso mesmo, é esta a razão que estes tipos encontram para justificar a privação da liberdade de um inocente "porque nunca se sabe" - afinal o gajo meteu lá a pila ou não? Ah, bem. Ah bem NADA, SUAS BESTAS! Mas alguém gosta de ser violado, cum c...? Esta lógica só me pode levar a concluir que os fãs destes tipos são todos asnos, só que ligeiramente menos inteligentes. De tudo o que está horrivelmente MAL com a frase "quer dizer que agora se alguém gostar de sexo, não faz mal ser violada", guardaram o pior para o fim: ELA NÃO FOI VIOLADA! Ah, pois, o Ched "tratou-a como se fosse um objecto", e isso "não se faz com as mulheres"? Vamos então ver outro nogate de fertilizante natural bovino:


Dei com este artigo de uma tal Gemma Clarke na edição de hoje do The Guardian, onde mais uma vez se olha para o caso de uma perspectiva que não vai além do nariz da autora. Segundo esta mui indignada senhora, "o futebol é um antro de homenzinhos feios, brutos e mãos", e um estádio de futebol "um lugar pouco prazenteiro para uma senhora". A seguir expõe o "problema" e propõe uma solução: "se os jogadores de futebol e outras pessoas desse meio olham para as mulheres como meros objectos sexuais, deviam haver mais mulheres a trabalhar nos clubes, e entre os dirigentes desportivos, para eles se irem habituando à ideia". Genial, não acham??? Para "inducar" estes trogloditas de calções que pastam como o gado na relva a correr atrás de uma bola, toca a meter mulheres nos clubes, para que eles percebam que são criaturas com sentimentos, e conheçam o que é aquilo que vem agarrado ao orifício húmido onde eles aliviam a pica da testosterona. E não tarda nada começam a estabelecer cotas e mais o camano, que é a única forma que eles ingleses têm de se relacionarem uns com os outros: à força. Qualquer dia um clube inglês que não tenha pela menos um homossexual, um careca, um esquimó, um paraplégico, um "rastafari" e um patinador no gelo entre os seus atletas, dirigentes ou funcionários, é acusado de discriminação! Pensam que eu estou a reinar? Basta um destes que eu referi que tenha uma associação de outros como ele vir choramingar, e já está! Já sei o quer dizer aquele "chips" em "fish & chips": batatinhas! A Inglaterra é o melhor sítio do mundo para se ir pedir batatinhas! E a culpa é dos imigrantes, dos subsídio-dependentes, etc. etc., não é? Ó ingenuidade, a quanto obrigas.

Não sei o que é que leva esta gente a falar de mulheres como se fossem um bando de pássaros a migrar para o sul no Inverno, ou como se nascer com dois cromossomas "X" fosse alguma deficiência inata, de que "não têm a culpa, coitadinhas". Mas afinal somos indivíduos com personalidade própria, ou dois "gangues" rivais, de um lado os "Blokes", do outro as "Broads"? Há mulheres no dirigismo desportivo, e se não há mais é porque se calhar preferem ir fazer outra coisa, sei lá, será que para se sentirem em pé de igualdade com os homens são obrigadas a gostar de futebol? O Leganés, clube madrileno que este ano se estreou na Liga principal, tem uma mulher como presidente, e em Portugal o U. Leiria e o Leixões (se não estou em erro) também. É um cargo de gestão, como outro qualquer, e nem precisa de perceber sequer as regras do jogo, ou gostar de assistir. Se SÓ souber de futebol, aí sim, é um problema. O género é irrelevante. Na França há um clube profissional que tem uma mulher como técnico principal, de que já falei neste artigo, que nem por acaso foi dedicado à desavença entre José Mourinho e a médica do Chelsea, que para acusar Mourinho recorreu apenas à sua condição feminina. Quem disse que as coincidências existem? Só para os ingleses estas coisas são um "grande problema". Para os outros é um jogo, que para se ver não é preciso saber se os clubes empregarem pelo menos uma mulher, um indiano e um coxo, que diabo!


E finalmente uma opinião que devia colocar água na fervura, mas consegue deixar as coisas ainda piores. Vera Baird é um comissária e investigadora criminal, e também já foi procuradora judicial, e isso dota-a de credibilidade - que depois perde com a sua militância no activismo feminista. A douta senhora vem dizer que a desacreditação da alegada vítima da parte da defesa recorrendo ao sua (péssima) reputação no que toca a encontros sexuais no passado "fez regredir o sistema judicial britânico em 30 anos". Então deixe-me ser o primeiro a dar-lhe os parabéns; o primeiro julgamento  em 2011, que agora se sabe ter resultado num erro judicial tenebroso, foi um retrocesso até à Idade Média - progrediram vários séculos em apenas 5 anos, e pode ser que um dia se aproximem da civilização! Força! Não me parece que esta "especialista" tenha apontado para o gravíssimo atentado à presunção da inocência que foi não deixar o arguido defender-se condignamente, ignorando completamente as mesmas provas que agora comprovaram a sua inocência - partiu praticamente condenado, e só faltava que cada vez que ele abrisse a boca lhe berrassem: "cala-te, violador!". Ainda por cima esta e outras que encararam este caso como "uma vitória para as mulheres" vieram afirmar que este novo veredicto "não significa que Ched Evans é inocente, mas apenas que não ficou provada a sua culpa". Exacto, e por isso voltou ao estado que tanto elas como eu ou prezado leitor se encontram neste momento: inocentes. Eu não cometi nenhum crime, e quem não acredita pode dar meia volta ao dedo acusador metê-lo sabe muito bem onde: quem me quiser acusar de alguma coisa, ELE É QUE TEM QUE PROVAR! A decisão de condenar este inocente atendendo às pressões de grupos e indivíduos de fora do sistema é assustador, tendo em que conta que foi tomada por pessoas que conhecem melhor que eu este pressuposto, e têm o dever de o aplicar. Vergonhoso. 

O facto do Ched Evans ter sido ilibado do crime de violação não quer dizer que "é ok ter relações sexuais com outra pessoa sem que ela expresse o consentimento". Não passa nenhuma mensagem que valha realmente a pena,  e na menos má das hipóteses poderá ficar como referência para quem quiser pensar duas vezes antes de adoptar certos estilos de vida, ou colocar-se em situações de risco quando não está no pleno uso das suas faculdades mentais, ou do discernimento. Em termos de moral, só posso mesmo censurar quem defende que pela via das dúvidas, não se perde nada se um inocente pagar por por um crime que nem aconteceu. E ainda falam do Duterte? A conclusão desta autêntica saga prossegue dentro de momentos.

(CONTINUA)

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