segunda-feira, 24 de julho de 2017

A esquerdofobia da Parrachona


Este foi um momento de enorme inspiração do programa "Donos disto tudo" no mês passado. Uma paródia imaculadamente interpretada pelo actor Eduardo Madeira, que encarna na perfeição a "Parrachona", uma "gémea má" da actriz Maria Vieira, e que lhe "roubou" a página do Facebook. Ora bem, como toda a gente sabe ou devia saber, quem escreve na página da actriz é o seu marido, um indivíduo que dá pelo nome de Fernando Duarte Rocha, um escritor frustrado que não sabe o que é um dia de trabalho há 30 anos, mas que tem uma...lata! Isso, o que mais? Para criticar tudo e todos, e chamá-los de "incompetentes", "parasitas", e "inúteis". Oh, a ironia. A resposta tardou, mas Eduardo Madeira provou da fúria da Parrachona:


Como eu não estou muito por dentro do que se faz em Portugal no que toca à nudez pública das celebridades, precisei de ir saber ao que é que a criatura se referia, e afinal Eduardo Madeira apenas cumpriu duas promessas: no ano passado disse que ia nu para o Marquês de Pombal caso a selecção vencesse o Europeu de futebol, e já este ano prometeu que nadava nu no Tejo se Salvador Sobral ganhasse o Festival da Eurovisão - promessas que cumpriu, como lhe competia. Para a Parrachona, o actor "despiu-se para chamar a atenção", pura e simplesmente. Têm sido frequentes estes truques de manga da parte de Fernando Rocha; ora meias-verdades, ora verdades adulteradas, recurso a factos manipulados, enfim, uma desgraça. As reacções não podiam ser diferentes destas que vamos ver a seguir:


E nem foi preciso editar nada desta sequência de comentários à notícia. São centenas deles, quase na totalidade negativos, intervalados por um ou outro mais cúmplices, que se escudam no "direito à liberdade de expressão" - já lá vamos. Primeiro um facto que tem deixado muita gente desconfiada de que não é Maria Vieira a escrever na sua página do Facebook: a actriz foi em tempos uma militante do Partido Comunista, e assumidamente uma pessoa de esquerda. Isto tem levado muitos a estranhar a súbita "esquerdofobia" que "Maria Vieira" tem revelado nos últimos tempos. Apesar de ter recentemente considerado o presidente Marcelo Rebelo de Sousa "o pior da história", os alvos preferenciais da Parrachona têm sido o actual Governo do PS com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda. Depois de ainda há dois dias ter chamado primeiro-ministro António Costa de "cretino comunista", ontem tivemos isto:


A crise na Venezuela e a contestação ao seu presidente Nicolás Maduro tem sido o grande cavalo de batalha da Parrachona, que não se inibe de tecer comparações absurdas à situação em Portugal. Aquilo que ali está não tem pés nem cabeça, e ontem foi um dia especialmente produtivo nesse aspecto:


Que o cavalheiro senhor marido da Maria Vieira sinta desprezo por comunistas, isso é lá com ele, mas pessoalmente ofende-me que a sua "esquerdofobia" o leve a pintar um cenário dantesco como este que apresenta para o meu país. O governo da chamada "Geringonça", quer se goste, quer não, tem obtido bons resultados. Portugal reduziu o défice para menos de 3%, o desemprego está nos níveis mais baixos dos últimos 20 anos, e a confiança dos portugueses parece estar em alta. É normal que se esgrimam argumentos ideológicos na arena da política, mas comparações com a Venezuela e apelos à "queda do Governo", por amor de Deus. Vai dar uma volta, ó Parrachona.


Este artigo da revista VIP do último dia 18 de Junho tem que se lhe diga. Observem só o fino recorte irónico do mesmo, quando alguém que aparece cedo de manhã na piscina comum do seu condomínio do Monte Estoril para tirar fotografias, e assim dar a impressão que a piscina é só sua diz que "vivemos num país que faz de conta que vive bem". Haja dó. Custa-me ler reacções negativas, insultos e outros impropérios dirigidos à Maria Vieira, quando o autor das entradas polémicas na página do Facebook não são da sua autoria. Sim, a actriz tem quota parte da culpa, por tolerar essa situação, e isso leva-me à questão que referi mais acima: que raio de "liberdade de expressão" é essa  que apregoais, quando alguém usa o nome e a reputação de outra pessoa para fazer passar as suas excrementosas opiniões? Sim, e digo "excrementosas". Ou será que esse conceito pioneiro de "liberdade de expressão" também implica que cada um diga os disparates que muito bem lhe apetece, e os outros só têm que ficar calados e "respeitar". Se isso é "respeito", vou ali e já venho.


Sem comentários: